Destaques

CAM oferece acolhimento e atendimento especializado para mulheres em situação de violência

Setores de psicologia, serviço social e orientação jurídica estão disponíveis no serviço para auxiliar essas mulheres a romperem o ciclo da violência

Enfrentar a violência doméstica e familiar cometida contra a mulher, acolhendo essa vítima de forma integral para atender suas necessidades. Essa é a premissa do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CAM), um serviço da Prefeitura de Londrina que, há mais de 30 anos, presta atendimento psicossocial e orientação jurídica a centenas de mulheres, que chegaram até lá por iniciativa própria, encaminhamentos ou via denúncias.

Foto: Emerson Dias / NCom

Localizado na Avenida Santos Dumont, 408, o CAM integra a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres (SMPM). No entanto, sua atuação envolve toda a Rede Municipal de Enfrentamento à Violência Doméstica, Familiar e Sexual contra às Mulheres de Londrina. Isso porque é para o CAM que os diferentes serviços públicos, como delegacias, unidades de saúde, escolas e juizado encaminham as mulheres, com idade igual ou superior a 18 anos, que tenham sido vítimas de violência nas formas previstas na Lei Maria da Penha – seja ela física, sexual, psicológica, moral ou patrimonial.

Foto: Emerson Dias/NCom

A secretária municipal de Políticas para as Mulheres, Marisol Chiesa, ressaltou que no âmbito do projeto Com Elas nos Bairros, lançado durante a abertura do Mês da Mulher deste ano, serão ampliados os atendimentos descentralizados do CAM nos bairros, distritos e patrimônios de Londrina, utilizando os equipamentos públicos existentes, como os CRAS, Unidades Básicas de Saúde, Centros de Convivência da Pessoa Idosa, unidades escolares, entre outros. “A oferta dos serviços do CAM diretamente nos territórios é uma meta do Plano Municipal de Políticas para as Mulheres 2023-2026, que estabelece entre as suas prioridades a articulação do CAM com a rede de serviços para proporcionar o primeiro atendimento das mulheres em situação de violência doméstica e familiar nos territórios, nos casos de resistência ao encaminhamento ou que a impeçam de comparecer ao serviço especializado”, frisou.

No Brasil, as mulheres são a maioria da população entre os responsáveis pelos seus domicílios, e também as principais vítimas de violência cometida por homens. Dados nacionais do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) divulgados pela edição 2025 do Relatório Anual Socioeconômico da Mulher apontam que, em 2023, foram registradas 302.856 notificações de violência doméstica, sexual e outras formas de violência contra mulheres. Destas, cerca de 71,6% ocorreram dentro de casa.

Sem ter o próprio lar ou a família como um ambiente seguro, muitas das vítimas enfrentam dificuldades ainda maiores para sair desse ciclo de violência. E é com essa finalidade que o CAM acolhe essas mulheres, fazendo o encaminhamento para a Casa Abrigo Canto de Dália quando necessário, como explicou a gerente do CAM e psicóloga da SMPM, Fernanda de Mello Nogueira.

Foto: Emerson Dias / NCom

“A porta de entrada para o abrigo é o CAM. Então, se uma mulher está sob grave ameaça ou risco de morte decorrente de violência doméstica e familiar, ela vem ao CAM, passa por uma acolhida e o CAM encaminha para o abrigo, em local sigiloso. Após às 18h ou nos sábados, domingos e feriados, o lugar de referência é a Central de Flagrantes, que aciona o plantão da SMPM para as providências devidas”, detalhou Nogueira.

Segundo a gerente do CAM, além dos crimes de violência previstos pela Lei Maria da Penha, o serviço também atende casos de assédio e importunação sexual. “Algumas vêm encaminhadas pela rede de serviços, mas também podem vir de forma espontânea. Os tipos de atendimentos prestados são divididos entre três setores, que é o de psicologia, de serviço social e a orientação jurídica. Então aqui a mulher vai ter atendimento com esses três profissionais: psicóloga, assistente social e advogada”, comentou.

Outras ações promovidas pela SMPM para o público do Centro de Referência incluem palestras, oficinas, capacitações e encaminhamento para cursos de qualificação para o mercado de trabalho. A equipe do serviço já conduziu palestras e formações em outros municípios, levando sua experiência sobre o trabalho multiprofissional no enfrentamento à violência contra a mulher.

Nogueira lembrou que o CAM de Londrina foi um dos primeiros do país, fundado em 1993. É um serviço gratuito e conta com uma equipe técnica especializada na temática da violência e gratuito e de qualidade. “Londrina é pioneira no atendimento da mulher em situação de violência doméstica, inclusive o CAM existe bem antes da lei Maria da Penha, que foi promulgada somente em 2006”, lembrou.

Uma das mulheres acolhidas no Centro de Referência reforçou, em depoimento anônimo, que aprendeu ali a se valorizar e ver a si própria como uma pessoa digna. “Antes de conhecer o CAM minha vida era sem expectativa nenhuma, literalmente não me amava e vivia só para cuidar dos outros. Mas depois que vim para o CAM conheci muita gente nova, as meninas me acolheram de braços abertos e me fizeram enxergar que posso ser especial. Comecei a sair, procurei uma escola de dança e aprendi a dançar. Tenho amigos, converso; quem me conheceu antigamente literalmente não me reconhece agora”, comemorou.

E essa virada de página, felizmente, se repete. Aos 70 anos, Nair (nome fictício), relembra que passou 45 anos em um relacionamento marcado por sofrimento. Agora, consegue aproveitar a vida com leveza e alegria. “Eu não sei por que que eu não tomei uma atitude lá atrás, tinha meus dois meninos pequenos, mas eu sempre fui independente, sempre trabalhei. Nunca fiquei esperando pelo marido para ajudar, mas eu tinha medo de alguma coisa, e eu vivi nessa situação por 45 anos. Agora me separei dele, aluguei um apartamento e estou morando sozinha. Tenho uma vida corrida, mas posso voltar pra casa e dormir sossegada, ter um sono bom. Antes eu não podia nem sorrir, porque tudo que eu sorria ele achava algum defeito. Sou uma nova mulher, cheia de esperança, de alegria e muita fé”, reforçou.

Nair, inclusive, aconselha para que outras mulheres que estejam passando pelo mesmo cenário façam a escolha por mudar de vida. “Se você passa pelo mesmo problema que eu passei, vai superar. Temos que ser exemplo para essas que vêm depois da gente, para poderem sobreviver também; e a gente não pode ter medo, tem mais é que erguer a cabeça e seguir em frente. Cheguei no CAM muito arrasada, muito sofrida, e lá eu encontrei um motivo para continuar e buscar a minha liberdade. As pessoas ali ajudam muito a gente, tem muitas pessoas boas nesse mundo ainda. E quem precisar de ajuda, procure o CAM”, alertou.

O horário de atendimento presencial no CAM é de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Após esse período e nos sábados, domingos e feriados, o atendimento é prestado pelo Plantão 24 horas, acionado diretamente pela Central de Flagrantes da Polícia Civil. O telefone para contato é (43) 3378-0132.

Etiquetas
Mostrar mais

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Compartilhamentos