Ministério Público e Secretaria da Mulher debatem papel do homem no combate à violência
Atividade integra a Campanha dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, que prossegue em Londrina até o 10 de dezembro
Para marcar o Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, celebrado nesta terça-feira (6), a Prefeitura de Londrina, por meio da Secretaria Municipal de Políticas para a Mulher, recebeu o promotor da 30ª Promotoria de Justiça de Londrina, Ronaldo Costa Braga, do Ministério Público, para uma palestra sobre o assunto. O encontro aconteceu no auditório da Prefeitura, na Avenida Duque de Caxias, 635, no Centro Cívico.
O objetivo da palestra foi capacitar os servidores municipais e integrantes da Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica, Familiar e Sexual de Londrina para a importância do papel ativo dos homens no combate a todas as formas de violência sofridas pelas mulheres. “Nosso objetivo foi trazer a visão e a experiência de um homem para falar sobre violência contra a mulher, porque entendemos que precisamos trazer todas as perspectivas, masculinas e femininas, para de fato conseguirmos enfrentar as diversas formas de violência contra a mulher, e o dr. Ronaldo Costa Braga é a principal referência masculina neste assunto, em Londrina”, explicou a secretária municipal de Políticas para as Mulheres, Liange Doy Fernandes.
Segundo o promotor de Justiça, Ronaldo Costa Braga, a violência contra a mulher é estrutural na sociedade e se difere da sofrida pelos homens. Isso porque, grande parte delas sofre agressão na esfera privada, ou seja, no próprio lar, por aqueles que amam e com quem convivem afetivamente, o que não acontece, costumeiramente, com os homens. “Temos uma sociedade patriarcal, onde há uma imposição e uma opressão contra as mulheres no sentido de elas terem que se submeter as vontades dos homens e, por vezes, a violência é empregada para fazer valer essa opressão, para colocar as mulheres em posição de submissão. E essa é uma violência diferente entre os gêneros, porque a sociedade é formada em cima do patriarcado para fazer valer a opressão do homem contra a mulher e não o contrário”, explicou o promotor do Ministério Público.
Para tentar mudar esse cenário, Braga acredita que é preciso atuar na educação e conscientização dos homens, mostrando como a sociedade forma-se, para que através da compreensão seja possível identificar comportamentos agressivos e violentos, para que eles não voltem a acontecer. “É importante que o homem conheça, reflita, pare de se comportar dessa maneira e passe a se comportar de forma protetiva e de respeito às mulheres, para que a gente caminhe em uma sociedade mais justa e igualitária”, disse.
Projetos – Em Londrina, existem projetos educativos que trabalham com os homens agressores, como o Basta e o Além do Horizonte, que são desenvolvidos pelo Poder Judiciário, através do Conselho da Comunidade, que é um órgão da execução penal, com apoio do Ministério Público.
O Programa Basta é uma iniciativa do Patronato Penitenciário de Londrina, desenvolvido pela Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania (SEJU) e a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), por meio do Programa Universidade Sem Fronteiras e do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Nele são feitas rodas de conversa e grupos reflexivos com os agressores que já responderam a processos criminais e foram condenados. Ele é um meio de cumprimento de pena em regime aberto e deve ser determinado judicialmente.
Já no projeto Além do Horizonte, o objetivo é atender e acompanhar os agressores que receberam a Medida Protetiva de Urgência contra eles, através de círculos restaurativos, de forma de desenvolverem autoconhecimento e empatia pelas mulheres, assim como conscientizá-los para praticar o respeito e a cooperação mútua, na tentativa de atuar na prevenção à violência doméstica de Londrina. “O grande modificador da violência contra a mulher não é apenas o caráter da punição do autor da violência, e sim da reflexão, a restruturação e a ressocialização desse homem, para ele parar de pensar e agir reproduzindo opressões contra as mulheres. Geralmente, o homem que consegue se perceber com o comportamento abusivo, ele consegue modificar isso. Por isso, que precisamos abrir os olhos dos homens para essas situações. É através da educação que a gente pode fazer os homens adquirirem conhecimento e se apropriarem dele, para partirem para uma ação e uma omissão, de deixar de praticar esses atos de opressão, como também agir quando visualizar esses atos na sociedade”, complementou Braga.
Para o participante do encontro, Rodolfo Lansoni, que é servidor da Controladoria-Geral do Município de Londrina é importante que palestras e capacitações nesse sentido sejam realizadas para os homens e mulheres, para conscientizar a sociedade sobre a importância da garantia dos direitos das mulheres e para a mudança de comportamento. “É a primeira vez que participo de uma palestra nesse sentido, mas acho importante termos mais, porque além de tratarmos dos direitos da mulher, estamos tratando acima de tudo dos direitos humanos e a sociedade tem que se abrir para isso. Não há motivos para tratar as mulheres com violência e desprezo. Elas devem ser tratadas com igualdade e respeito. Acho essencial que o homem tenha essa conscientização e a capacitação ajuda a disseminar esse conhecimento; de que o homem tem um papel muito ativo na sociedade e que as mulher tem que ser respeitada”, falou Lansoni.
Para o servidor e o promotor de Justiça, piadas machistas ditas em rodas de conversa e momentos de socialização podem ser citadas como um exemplo corriqueiro de desrespeito às mulheres, pois, quando não é falado sobre o assunto, chamando a atenção para o fato, muitos não percebem como uma forma de discriminação. “Muitos comportamentos reproduzidos no dia a dia não são percebidos como preconceito ou desrespeito e isso nos mostra como a pessoa que recebe a piada também enxerga, por isso que acho que todas as secretarias municipais e outros órgãos deveriam mandar seus servidores para essa palestra”, opinou o Lansoni.
A atividade integra a Campanha dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Na programação, que começou em 20 de novembro, já foram realizadas ações de conscientização sobre a garantia e defesa dos direitos das mulheres, transmitidos vídeos informativos, feitos seminários, palestras, capacitação, mobilização, visitas técnicas e postagens nas redes sociais. A programação ainda prossegue até 10 de dezembro, com o Dia Internacional dos Direitos Humanos.