Grafatório lança livro de Nanao Sakaki em evento neste sábado (5)

Um andarilho radical, um dissidente zen-budista, um ecologista à frente de seu tempo, um inventor da contracultura no Japão – tudo isso poderia servir para descrever Nanao Sakaki (1923-2008), escritor japonês cujos poemas são publicados em português pela primeira vez pela Grafatório Edições, selo editorial de Londrina. O livro intitulado Galáxia Floresce na Primavera reúne 60 poemas escritos pelo autor entre os anos 1960 e o início dos anos 2000.

A noite de lançamento está marcada para o próximo sábado (5), às 19h, na Vila Cultural Grafatório (rua Mossoró, 483). O evento vai contar com discotecagem feita pela DJ Gabriela Kansha, além do Bar About servindo chopps e drinks. A entrada é gratuita. O show que estava previsto e divulgado com o músico paulista Vitor Wutzuki precisou ser cancelado.

O livro estará sendo vendido a R$ 75. Os interessados podem conseguir um desconto de 20% neste valor se pegarem um cupom na Livraria Olga (rua Pio XII, 312), no mesmo dia do lançamento. A promoção faz parte da comemoração do aniversário de um ano da livraria. Com o desconto, que é válido apenas para o dia 05/08, o livro sai a R$ 60.

Além do livro, na noite de lançamento também estarão disponíveis outros produtos relacionados à obra de Nanao Sakaki, como uma ecobag e um cartaz serigráfico assinados pelo designer Gabriel Lemes, além de cerâmicas criadas pela artesã Natália Andreetta.

Felipe Melhado, membro do Grafatório e tradutor do livro de Nanao Sakaki, deu mais detalhes sobre o processo de tradução dos poemas do autor japonês. “Comecei a traduzir os poemas do Nanao na pandemia, por curiosidade, gostei bastante do autor e fui me dedicando para fazer traduções que fossem voltadas para publicação. Toda paleta de cores foi inspirada nas cores da revista editada pela equipe do Nanao no Japão, da década de 70, com uma estética de contracultura, e foram usados diversos elementos 3D de sobreposição aos poemas. Tentamos trazer elementos únicos que valorizem ainda mais a obra”, citou.

Melhado acrescentou que a equipe do Grafatório espera que os leitores conheçam mais a obra do escritor. “Desejamos que o Nanao conte com mais leitores por aqui, já que o pensamento dele é cheio de ideias éticas de como conduzir a própria vida, e isso chega bem com o momento que estamos vivendo. Nossa expectativa é que os poemas atinjam pessoas e possa até transformar vidas”, concluiu.

O autor e o livro – Nascido na província de Kagoshima, Nanao serviu ao exército japonês na Segunda Guerra Mundial como analista de radar. Após a derrota do Japão, os rumos de sua vida alteraram-se radicalmente, e ele iniciou um estilo de vida andarilho, circulando a pé pelo país por diversas vezes. Simultaneamente tornou-se escritor, atualizando para sua época uma tradição centenária de poetas errantes, a exemplo dos haicaístas Bashô e Issa.

Nesse período, Nanao também envolveu-se com a vida noturna do bairro de Shinjuku, em Tóquio, que na época fervilhava com a abertura cultural japonesa. Foi nesse contexto que ele se tornou uma espécie de ícone da contracultura no país e fundou coletivos como a Academia dos Vagabundos e o Buzoku (geralmente traduzido como As Tribos). Com o Buzoku, Nanao organizou diversas comunidades que praticavam estilos de vida alternativos em lugares remotos do Japão.

Também foi nessa época que ele conheceu escritores norte-americanos ligados ao movimento beat, como Allen Ginsberg, Gary Snyder e Michael McClure. A afinidade com os beatniks conduziu Nanao aos Estados Unidos, país que visitaria várias vezes, percorrendo-o a pé. A partir de então sua poesia se tornaria conhecida internacionalmente, e Nanao viajaria por vários países e seria publicado em diversas línguas, como inglês, italiano, francês, espanhol, tcheco, finlandês, coreano – e agora, em português.

Galáxia Floresce na Primavera é uma antologia com os principais poemas de Nanao Sakaki, escolhidos e traduzidos por Felipe Melhado. A revisão da tradução é assinada por Maurício Arruda Mendonça, e o livro ainda conta com um prefácio de Gary Snyder e um posfácio escrito pelo próprio Felipe Melhado.

Os poemas revelam toda a singularidade de Nanao enquanto escritor, em textos que combinam influências da filosofia zen, referências à cultura popular japonesa, um agudo senso de observação da natureza, inversões de perspectiva, brincadeiras surpreendentes de escala, tempo e espaço, noções científicas oriundas da astronomia, da geologia e da botânica, além de um anti-sentimentalismo que encaminha para uma poesia rarefeita de ego. O livro também deixa clara a militância e a preocupação do autor com as questões ambientais, a ponto de sua obra já ter sido classificada sob o rótulo da ecopoesia – um dos fatores que tornam o trabalho de Nanao intensamente relevante para o presente.

A edição da obra em português faz parte da comemoração do centenário de Nanao Sakaki, que teria completado cem anos no dia primeiro de janeiro de 2023. Outra iniciativa organizada pelo Grafatório para marcar a efeméride foi a organização do site nanaoglobal.com, que reúne informações sobre o escritor, notícias relacionadas a sua obra e a colaboração de editores, tradutores, amigos e admiradores de Nanao de diversos países.

Galáxia Floresce na Primavera conta com um projeto gráfico marcante, com experimentações e soluções gráficas alternativas, o que é uma característica da Grafatório Edições. Os poemas são impressos em cores e o livro traz ilustrações impressas em relevo seco, assinadas pelo artista visual londrinense Guilherme Gerais. Os exemplares são costurados manualmente, um a um, com uma costura aparente que remete à encadernação japonesa tradicional. O projeto e a produção gráfica são de autoria do designer Pablo Blanco, e os acabamentos do livro foram realizados pelo tipógrafo Silvio Valduga.

A obra é o décimo segundo livro da Grafatório Edições, selo ligado ao coletivo de mesmo nome e que já publicou nomes como Paulo Leminski, Arrigo Barnabé, Rogério Sganzerla, Tomma Wember, Claude McKay, entre outros. Atualmente, a editora também prepara livros de autores como o músico ex-Mutantes Arnaldo Baptista, das poetas londrinenses Layse Barnabé de Moraes e Neuza Pinheiro, e do músico punk nova-iorquino Richard Hell.

Texto: Giulia Carradore, com informações da assessoria de imprensa do Grafatório, sob supervisão dos jornalistas do Núcleo de Comunicação da Prefeitura de Londrina.