Em busca da ancestralidade perdida
Xapiri Xapiripë inspira-se no universo ameríndio e traz ao Festival de Dança espetáculo que mostra a potência da música, da voz e do corpo em nossa matriz mais original. Festival conta com patrocínio do Promic
Na marcha rumo ao futuro, os povos indígenas ainda agarram-se ao tênue fio que os liga à origem. Nas grandes cidades, eles perdem-se entre transeuntes comuns, já adaptados à nova ordem, mas guardam nos traços e nos costumes um inventário de valores quase arquetípico. Ainda assim, dia após dia, as cerca de 150 línguas ou dialetos desses povos desaparecem para nunca mais. Como ato de resistência, de reflexão e de tentativa de compreensão sobre a causa, a Cia Oito Nova Dança, de São Paulo (SP), construiu “Xapiri Xapiripë, lá onde a gente dançava sobre espelhos”. O espetáculo está em cartaz na programação do Festival de Dança de Londrina nesta sexta (10), às 20 horas, no Circo Funcart.
Foram quase dois anos de pesquisa sobre os povos indígenas brasileiros e sobre a ancestralidade impregnada nos corpos de cada um dos oito intérpretes-criadores. Investigação acompanhada de perto por dois antropólogos. Na condução e na preparação do elenco, ninguém menos que a coreógrafa Lu Favoreto, a encenadora Cibele Forjaz (Cia Livre de Teatro), o compositor Gregory Slivar e a cantora Ná Ozzetti. “Todos os integrantes da equipe são muito autores. É um trabalho de parcerias, de coletividade, de encontros”, explica Lu Favoreto.
Ao longo de todo esse processo, que ela prefere chamar de “deglutições cênicas”, uma descoberta incomum: “o ancestral não é do passado, é do futuro”. É por esta perspectiva que a companhia paulistana constrói “Xapiri Xapiripë”, ou seja, mirando o índio despido de romantismos, inserido no contexto contemporâneo e, ainda assim, atemporal. “Quando observamos os índios de hoje, percebemos que eles ainda utilizam grafismos, máscaras, estão dentro de sua cultura, mas também usam roupas comuns. É uma sobreposição de camadas. Nós é que fazemos que não os vemos, mas eles nos veem muito bem”, considera Lu.
Assim os intérpretes aparecem aos olhos do público. Durante o espetáculo, a exuberância do corpo, o uso ritual da voz e o toque de instrumentos – muitos deles inventados – reavivam o ideário indígena, suas mitologias e cosmogonias. Este ideário tradicional revela uma rica imaginação sobre o mundo e o corpo, sobre os limites entre humanidade e animalidade.
O nome da montagem faz referência à transcendência e aos ritos de incorporação, presentes na maioria das tribos. Xapiri é como os povos Yanomami chamam os espíritos ou os animais ancestrais que se apresentam aos xamãs, dançando e cantando. Com os corpos belamente adornados e brilhantes, eles manifestam-se sobre um chão de espelhos, que reflete luz. É como se o próprio lume cantasse e dançasse, ligando os mundos.
Parte da pesquisa para o desenvolvimento das sonoridades e fisicalidades envolveu uma investigação de campo com índios guaranis radicados no litoral norte de São Paulo. “A característica principal deles é a adaptabilidade, pois estão próximos do mar. Eles acreditam que para lá do mar é onde existe a terra sem mal. Aprendemos cantos, danças, costumes e participamos de rituais na casa de reza”, lembra Lu. O grupo tem planos de, futuramente, realizar uma imersão ainda maior na tribo para a criação de um trabalho específico com os guaranis.
De volta à origem – Estar em Londrina, no Festival de Dança, tem um significado especial para Lu Favoreto. Ela nasceu em Londrina e deixou a cidade há exatos 30 anos, mas ainda conserva muitos parentes no norte do Paraná. Foi por aqui que Lu deu os primeiros passos na dança, estudando com a professora Yeda Marques Russo, da escola Adanac. “Sempre ouvi falar sobre a importância do Festival de Dança de Londrina, mas nunca consegui estar aí nem para me apresentar e nem para assistir. Será muito especial voltar às origens exatamente com um trabalho que fala sobre ancestralidade”.
O Festival de Dança de Londrina é uma realização da APD (Associação dos Profissionais de Dança de Londrina e Região Norte do Paraná). Apoio institucional: Funcart. Patrocínio: Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROMIC) e Royal Plaza Shopping. Apoio: Loja Shop Ballet; Só Dança; Pastel Mel; Rádio UEL; Produtora MK; Usina Cultural; Midiograf e Bar Valentino.
Serviço:
Xapiri Xapiripë, lá onde a gente dançava sobre espelhos
Cia. Oito Nova Dança
(São Paulo-SP)
Dia: 10 de outubro (sexta-feira)
Horário: 20 horas
Local: Circo Funcart
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa: Livre
Ingressos: R$ 10 e R$ 5
Ficha técnica:
Concepção: Lu Favoreto e Cibele Forjaz
Direção de movimento e pesquisa de linguagem: Lu Favoreto
Direção cênica e criação de luz: Cibele Forjaz
Direção musical: Gregory Slivar
Criação/interpretação (Cia. Oito Nova Dança e convidados): Camila Venturelli, Denise Barreto, Fabricio Licursi, Gregory Slivar, Lu Favoreto, Lucia Romano, Raoni Garcia e Thiago Antunes
Fundamentação antropológica: Renato Sztutman
Consultoria antropológica sobre os Guarani Mbya: Valéria Macedo
Preparação vocal: Ná Ozzetti
Figurino e visagismo: Marina Reis
Videoarte: Adriana Meirelles e Pushky
Cenografia: Cibele Forjaz e Wanderley Wagner da Silva
Operação de som: Renato Garcia
Operação de luz: Marcela Pereyra Páez
Produção Administrativa: Danielle Cristine
Produção Executiva: Juliana Nunes
Contrarregragem: Fernando Melo
Fotografia: Adriano Milan e Cacá Diniz
Serviço geral do evento:
12º Festival de Dança de Londrina
Londrina 80 anos
De 2 a 11 de outubro
Espetáculos e atividades formativas
www.festivaldedancadelondrina.art.br
Informações: (43) 3342-2362
Pontos de vendas:
– Secretaria da Funcart
Rua Senador Souza Naves, 2380
Fone: (43) 3342-2362
Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 8 às 20 horas, e aos sábados, a partir das 13h30.
– Loja Shop Ballet
Rua Pio XII, 64 – loja 3
Fone: (43) 3323-4717
Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 9 às 18 horas, e aos sábados, das 9 horas ao meio-dia.
Foto: Adriano Milan




