Cidadão

Conselho da Mulher debate o papel da mídia no enfrentamento à violência

Roda de conversa on-line contou com a participação de jornalistas e pesquisadoras da área

Na manhã desta quarta-feira (30), o Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres (CMDM) realizou um encontro com cerca de 30 profissionais da imprensa, a fim de debater “O papel da mídia no enfrentamento à violência contra as mulheres”. A roda de conversa foi on-line, por meio da Plataforma Zoom, e contou com a participação de diversas autoridades, como a presidente do CMDM, Rosalina Batista, a secretária municipal de Políticas para as Mulheres, Liange Doy Fernandes, e o promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná, Ronaldo Braga.

O objetivo do encontro foi conversar com os profissionais da imprensa (jornalistas, repórteres, fotojornalistas, apresentadores, editores, pauteiros, produtores e apresentadores) sobre a abordagem que os veículos de comunicação têm dado aos fatos que envolvem a violência contra a mulher, especialmente nos casos de violência física e sexual. Segundo a presidente do CMDM, Rosalina Batista, o debate com a imprensa é necessário, porque a violência atinge mulheres de todas as esferas, classes sociais e idades. “O papel do conselho é divulgar os direitos das mulheres e os serviços da rede que existe em Londrina para o enfrentamento à violência contra a mulher. E, hoje, o que queremos é isso: é falar com os jornalistas, porque a violência está em todos os espaços e se apresenta de diferentes formas”, disse Batista.

Já a secretária municipal de Políticas para as Mulheres, Liange Doy Fernandes, ressaltou a parceria que pode existir entre os órgãos de proteção à mulher e os profissionais da imprensa. Para ela, os jornalistas – quando noticiam os fatos do dia a dia – podem ajudar na divulgação dos serviços e das políticas públicas desenvolvidas no município. Dessa maneira, conseguem orientar e ajudar outras pessoas que estejam passando pelas mesmas situações narradas nas notícias.

Durante a roda de conversa, o promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná fez um apanhado histórico acerca do sistema judiciário brasileiro no que se refere ao enfrentamento da violência contra a mulher e lembrou das críticas aferidas à Lei Maria da Penha (Lei Federal nº  11.340/2006), norma que garante a defesa dos direitos das mulheres que são vítimas de violência doméstica e familiar.

Segundo o promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná, Ronaldo Braga, falar e combater a violência contra as mulheres é dever de todos, além de ser obrigação do Estado. Por isso, todos devem agir para fomentar uma mudança comportamental, social e cultural. “É uma obrigação do Estado não praticar violência e fomentar que todos da sociedade não mais a pratiquem. Nisso se incluem os meios de comunicação social, que podem coibir a reprodução de papéis estereotipados. São vários papéis que estereotipam as mulheres. Eles perpassam o gênero, a raça, a idade e têm que ser identificados e declarados. Isso só muda com a educação”, acredita Braga.

O promotor do Ministério Público também lembrou que os jornalistas devem seguir os tratados internacionais, a Lei Maria da Penha e a Constituição Federal, visto que são normas jurídicas que obrigam a todos os cidadãos e cidadãs a não descriminarem nenhuma pessoa. Assim, aquele que discriminar pode ser processado civil e criminalmente.

Dicas – Para ajudar os jornalistas na produção de matérias e reportagens sobre o assunto, a jornalista e assessora de imprensa do Observatório de Feminicídios de Londrina (Néias), Carol Avansini, elaborou algumas dicas. Entre elas estão: a produção de material sem estereótipos sexistas ou que revitimizem as mulheres; cuidados para não tentar culpar as vítimas pela agressão sofrida, seja pela descrição das roupas, horários, locais e comportamento que elas tenham tido; não isentar os agressores ao tentar justificar o ato através da descrição do comportamento deles como, por exemplo, o fato de o homem estar sob etilizado, sob forte tensão, com ciúme exagerado ou desequilibrado.

Além disso, segundo ela, é importante que os profissionais da imprensa deem voz às mulheres vítimas de violência, contando suas histórias, sonhos e desejos, além de apenas as retratarem e as reduzirem as vítimas de um crime. “O objetivo principal é incentivar a construção de novas narrativas, contando historias de forma mais empática e justa, sem estereótipos, revitimização, sem dar ênfase ao comportamento da mulher, mas contando seus sonhos e os desejos, que foram interrompidos. A participação da imprensa é muito importante, porque é por meio dela que conseguimos construir essas histórias”, acredita Avansini.

A jornalista do Diário do Grande ABC, colunista do Dia a Dia Revista, produtora de conteúdo e colaboradora do Portal Feminas, Aline Melo, também fez uma abordagem crítica da cobertura jornalística, que tem sido feita na mídia brasileira, e recomendou que os profissionais da imprensa busquem avançar para além dos boletins de ocorrência policial. “O papel do jornalismo é botar luz sobre os diversos aspectos, porque existe sim a revitimização das mulheres. E isso já começa pelo sistema de segurança pública, nos Boletins de Ocorrência que vem carregados de estereótipos e segue pelo sistema judiciário. Nós, enquanto jornalistas, devemos avançar além do BO”, disse Melo.

Já a jornalista, produtora cultural, escritora e integrante da Coalizão Negra por Direitos e Coalização Afro e membro do Colegiado Nacional da Rede Sapatá, Leila Lopes, falou sobre a importância da inclusão de mulheres trans, negras e lésbicas, que são vítimas constantes desse tipo de violência, mas muitas vezes sofrem com o silêncio da sociedade. “Esse debate é urgente. Sempre me pergunto e reflito como essa temática está  muito ligada ao machismo e como os meios de comunicação não repassam as informações de maneira didática. Tanto nas chamadas das reportagens quanto no interior das matérias, existe uma defesa do homem agressor, uma certa blindagem dos autores dos feminicidios, o que acaba dando uma leitura de impunidade”, acredita Lopes.

A mediação do encontro foi feita pela mestre em Ciência da Informação, coordenadora do Coletivo Black Divas e coordenadora da Comissão de Enfrentamento à Violência contra a Mulher do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres, Sandra Aguilera. A roda de conversa integra o Mês da Mulher, sendo uma realização do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres (CMDM), por meio da Comissão de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, em parceria com a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, Núcleo de Comunicação da Prefeitura de Londrina e Néias – Observatório de Feminicídios de Londrina.

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Ana Paula Hedler

Gestora de Comunicação, formada em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, especialista em Comunicação com o Mercado pela Universidade Estadual de Londrina e Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná.

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