Servidora defende dissertação sobre atuação do Movimento Negro em Londrina
Edição especial do projeto “Café com RH” lotou o auditório da Prefeitura, com apresentação da pesquisa de mestrado feita pela servidora Fátima Beraldo

O auditório da Prefeitura de Londrina recebeu, na tarde desta segunda-feira (17), dezenas de pessoas que foram conferir a edição especial do projeto Café com RH. Na ocasião, a gestora municipal de Promoção da Igualdade Racial, Fátima Beraldo, defendeu sua dissertação de mestrado com o título “Contribuições do Movimento Negro de Londrina na formulação de políticas públicas”, produzida dentro do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Desenvolvido pela Secretaria Municipal de Recursos Humanos (SMRH), o Café com RH faz encontros mensais, voltados aos servidores municipais, e tem como objetivo atualizar e informar os apontadores de cada secretaria, autarquia e fundação municipal sobre tópicos relevantes. E dentre os temas que são abordados regularmente pelo projeto, está “Inclusão Social, diversidades e racismo”.
Entre o público que compareceu ao auditório da Prefeitura, estavam servidores, integrantes do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (CMPIR), alunos e docentes da UEL, além de familiares e amigos da servidora Fátima Beraldo. Dentre as autoridades, participaram o prefeito Marcelo Belinati; os secretários municipais de Recursos Humanos, Julliana Faggion Bellusci, e de Gestão Pública, Fábio Cavazotti; o chefe de Gabinete, José Otávio Sancho Ereno; o procurador de Justiça do Ministério Público do Paraná (MP-PR), Paulo Tavares; e os vereadores Matheus Thum e Lenir de Assis.

O prefeito Marcelo Belinati parabenizou a gestora Municipal de Promoção da Igualdade Racial, a quem considera uma lutadora e batalhadora. “Não é possível fazer tudo, mas tudo o que for possível a gente vai fazer. Parabéns Fátima, saiba que você tem a minha admiração, meu respeito e meu carinho. Sou muito grato a você e toda a equipe que trabalha com você. Parabéns porque, além de todo trabalho que você desenvolve, está estudando, se preparando e se dedicando, e não é fácil fazer uma dissertação de mestrado. Que Deus abençoe muito sua vida e boa sorte”, declarou.

A atuação de Fátima Beraldo também foi elogiada pela secretária municipal de Recursos Humanos, Julliana Faggion Bellusci, que destacou, dentre as conquistas, a recente inclusão de cursos e formações da área de direitos humanos, inclusão social e combate ao racismo dentro dos temas válidos para promoção de carreira dos servidores municipais. “A SMRH está trabalhando conjuntamente com a Gestão Municipal de Promoção de Igualdade Racial e temos conseguido avanços nessa pauta. Uma delas é o Café com RH, que foi estabelecido por decreto no ano passado e traz vários temas, um a cada mês. E, obrigatoriamente, em um dos meses o tema deve ser o combate ao racismo. Ano passado, a Fátima participou com uma palestra e, esse ano, ela vem brilhantemente fazer mais uma palestra, defendendo uma dissertação de mestrado. E de forma inédita, recebemos aqui a Universidade Estadual de Londrina, o que é uma honra para nós”, complementou.

Tendo atuado como promotor de Justiça em Londrina por 27 anos, o procurador do MP-PR Paulo Tavares lembrou da criação do Grupo de Trabalho de Combate ao Racismo, em 2012, e que desde sua implantação possui grande atuação de Beraldo. “Foi muito gratificante para mim e para o Movimento Negro também. Acredito que nós evoluímos muito nesse período, em termos de participação, de união e de aprendizagem. Conseguimos desenvolver ou interferir em algumas políticas públicas nas áreas de educação, da saúde e na área da segurança pública, com cursos, palestras e orientação para os servidores públicos. Essa questão do racismo tem que ser trabalhada, com a população branca principalmente, diuturnamente. Nós recebemos uma carga na educação, na família, na sociedade, que é terrível, em relação ao racismo. É importante que haja essa união, que teses e dissertações como essa sejam realizadas e difundidas, para que as pessoas possam se despertar”, acrescentou.

Na sequência, a orientadora da pesquisa, professora doutora Ângela Maria de Sousa Lima, abriu a etapa acadêmica. “Esse é um momento muito especial, um ritual de passagem do mestrado. Um fechamento de um ciclo, de um programa de pós-graduação, mas vocês verão e ouvirão como esse ritual abre tantos outros potentes que as professoras aqui vão contar com suas próprias palavras. Obrigada a todos da Prefeitura por abrirem esse espaço, é uma responsabilidade da Universidade e que façamos mais vezes, que seja uma inspiração para a defesa de outros trabalhos”, citou.
Pesquisa – A dissertação produzida por Beraldo aborda o período entre 2003 e novembro de 2022, e a pesquisa relaciona de que forma as lutas do Movimento Negro em Londrina têm contribuído para a formulação de políticas públicas direcionadas à inserção da população negra. Também aponta a forma pela qual a escrivivência da pesquisadora se funde com a escrivivência do Movimento Negro de Londrina, potencializando ações afirmativas para a população negra configurada em políticas públicas sobretudo educacionais.
Para isso, foi feita uma revisão bibliográfica com análise documental sobre a produção do Movimento Negro local. Os documentos analisados incluem, por exemplo, atas, relatórios e resoluções das conferências municipais; a Lei Municipal n° 10.185 de 2007, que instituiu o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (CMPIR) em Londrina; carta de Viamão do Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial (FIPIR); a Lei Municipal n° 11.952 de 2013, que estabelece reserva de 10% das vagas ofertadas em concursos públicos do Município para afro-brasileiros; a Resolução n° 78/04 da UEL, que implantou a política de cotas na instituição; entre outros.

“Enquanto perspectiva de mudança, a gente vê que há um trabalho não só do Movimento Negro e do Conselho, e que de certa forma vem sendo realizado conjuntamente pela Prefeitura de Londrina e a UEL”, comentou a pesquisadora.
Beraldo também citou que o CMPIR foi um dos primeiros conselhos implementados no sul do país, com essa temática. “Os processos no tocante à implantação de políticas de reparação dos efeitos danosos causados à população negra ainda encontram inúmeras barreiras e empecilhos. Os avanços ficam muito aquém do necessário para que as oportunidades entre brancos e negros estejam em um patamar próximo do que possa se considerar igualdade”, finalizou.
Integrando a banca de avaliação, a diretora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB-UEL), Marleide Rodrigues da Silva Perrude, enalteceu e destacou, dentre outros pontos, o mapeamento de documentos feito pela pesquisadora. “Ela fez um recorte temporal bastante interessante e fez algo muito importante, que foi mapear e reunir todos os documentos produzidos nesse período. Uma das principais contribuições desse trabalho foi fazer esse levantamento de documentos que sabíamos da existência, mas estavam espalhados. Foi feita de forma bem sistematizada, de 2004 a 2022, e um dos principais méritos é isso, pois dará parâmetros para outros pesquisadores. Quem porventura quiser buscar ou compreender as políticas públicas em Londrina de promoção da igualdade racial, terá de ter o trabalho da Fátima como referência”, citou.

Também integrando a banca, a professora da UEL e doutora Margarida de Cássia Campos afirmou que é fundamental levar a pesquisa para fora dos limites da instituição. “Sair dos muros da universidade é ir para o chão da pesquisa é fundamental. Esse evento é histórico por estar dentro desse movimento maior, de pensar outras possibilidades de fazer pesquisa. E isso não está presente só nessa dissertação, mas também no trabalho da Fátima. O trabalho tem uma contribuição significativa, por resgatar o Movimento Negro, que há 500 anos nos diz que somos um país racista e, por conta disso, precisamos de políticas públicas de reparação da desigualdade. Trazer a luta desse movimento educador e dar ênfase é algo enorme e grandioso, pois esses tipos de pesquisa vão mostrar para a sociedade brasileira a importância de grupos sociais historicamente invisibilizados”, frisou.