Comida típica será servida no Cabarezinho
Evento cultural que começa nesta quinta-feira conta com almoço que resgata a comida dos pioneiros de Londrina
Texto E-Lectra Comunicação
Quando o chef de cozinha Marcelo Sokolowski foi convidado para fazer no Cabarezinho um almoço com a comida típica dos pioneiros de Londrina, ficou incumbido de uma tarefa difícil. Dentro do evento – que acontece até domingo na Vila Cultural Cemitério de Automóveis – o almoço faz parte das celebrações dos 75 anos de Londrina, nesta quinta-feira (10).
Mas recuar no tempo e imaginar o que comiam aqueles homens rudes que chegaram ao Norte do Paraná nos anos 20 e 30 era uma missão quase inglória para um cozinheiro, porque não há registros formais destes costumes.
Claro que o chef sabia que numa região ainda sem produção agrícola, a comida, nos primeiros tempos, vinha da floresta, sobretudo da caça e das palmeiras que foram sendo abatidas uma a uma para fazer casas e alimentar os que chegavam. Mas partir disso para criar uma comida típica da região era outra história.
Então, ele procurou registros, debruçou-se sobre livros e, para sua surpresa, viu que na coleção Cozinha Regional, da Editora Abril – considerada uma das mais completas do gênero – não há nenhuma referência à comida do Norte do Paraná. No livro, a culinária paranaense se restringe aos pratos encontrados no Sul, como o barreado, e o mapa fica vazio a partir de Guarapuava.
Assim, Sokolowski lançou mão do que parecia ser o óbvio. Na mesa ou nos embornais dos colonizadores não devia faltar frango, que eles carregavam em viagens até debaixo do braço para criar na terra nova, além do palmito, encontrado com facilidade nas matas e que nos primeiros tempos alimentou muita gente. Ao frango ele adicionou um toque de bebida, mais precisamente de uísque, trazido pelos ingleses e que era consumido por todos os que precisavam de um estímulo para aguentar o trabalho duro.
Desta forma, surgiu o “Frango com Uísque e Palmito”, prato que os frequentadores do Cabarezinho vão saborear nesta quinta-feira, a partir das 11 horas, acompanhado de farinha de mandioca. As porções individuais vão custar R$ 10,00 e são uma iguaria que vai levar a marca do chef Sokolowski, que já comandou cozinhas sofisticadas como a do Hotel Bourbon de São Paulo, além de ter trabalhado no Rio, em Curitiba e também em Londrina onde, atualmente, dá aulas de História da Gastronomia na Unopar.
Uma conversa saborosa
Antes de servir o almoço, Sokolowski vai fazer uma palestra sobre culinária. Além de ser um chef, ele é formado em Sociologia pela USP, de modo que sabe muito bem aliar cultura e comida.
Seu interesse se volta, entre outras coisas, para os estudos de Carlos Alberto Dória, doutor em Sociologia e autor de livros como “Culinária Materialista” e “Formação da Culinária Brasileira”. Dória desmistifica a ideia de uma gastronomia brasileira fundamentada na ideologia criada pelo Modernismo, nos anos 20, que reúne a culinária nacional sob a tríade étnica das influências portuguesa, indígena e africana.
Nesta linha de pensamento, um conceito a ser desmistificado, por exemplo, é o de que a feijoada é uma comida de senzala. “A feijoada surgiu no Rio de Janeiro, a partir das receitas de cozidos trazidas pelos europeus. A feijoada foi inspirada em pratos como o cassoulet dos franceses” – explica o chef londrinense.
Como outros estudiosos da cozinha, Sokolowski acha que a comida típica também não deve estar relacionada às divisões políticas dos estados, como se faz com o “churrasco gaúcho”. Segundo ele, o Rio Grande do Sul, por incrível que pareça, é o estado que mais consome verduras no Brasil e o churrasco também é carro-chefe na cozinha matogrossense, que foi colonizado por gaúchos e hoje tem um dos maiores rebanhos do Brasil. Sokolowski defende a ideia de relacionar a comida com a cultura de um lugar – o que é diferente da divisão política regional.
Ele também insiste na importância de reforçar o conceito do “terroir”, palavra francesa que significa território e que valoriza produtos que trazem denominações de origem. No Brasil, poucos produtos têm esta identidade, entre eles estão o queijo, a cachaça, o café e o vinho produzidos em algumas regiões. Segundo Sokolowski, a identificação de origem reforça o que se produz em cada lugar, criando-se uma tradição a partir de um valor cultural. Isto também contraria o conceito do “fast food”, comida padronizada que se consome em qualquer lugar do mundo e que não tem uma identidade.
As pessoas interessadas nesses assuntos vão encontrar no almoço comandado pelo chef Sokolowski no Cabarezinho um vasto cardápio de boa conversa, além do “Frango com Uísque e Palmito”, prato criativo que traz o gostinho da história local.
Programação do Cabarezinho
Dia 10/12 (quinta-feira)
9h30: Abertura das exposições dos trabalhos mais marcantes do projeto “Linguagem e Memória”, desenvolvido no patrimônio Selva.
10h: Mesa redonda com os escritores Edison Maschio e Maurício Arruda Mendonça. Maschio é autor de “Escândalos da Província”, primeiro romance totalmente escrito e ambientado em Londrina; Mauricio escreveu “Londrinenses”, o mais recente título produzido e ambientado na cidade, que será lançado até o final do ano. Também participam os historiadores Rogério Ivano e Toni Hara.
11h: Almoço dos pioneiros. Aula aberta de culinária com o chef Marcelo Sokolowski seguida de almoço (frango ensopado acompanhado de palmito pupunha e farinha de mandioca). Por adesão: R$10,00.
13h: Nós Caipira – Show de Rubens Nardo, Beto Nardo e Marco Scolari abre o Cabarezinho com clássicos da música caipira da década de 30 (entrada franca).
22h: Batistela… Trio – Lançamento de vídeo com performances do baterista Eduardo Batistela que, na sequência, faz o show do Bat-Trio com Mizão na guitarra e Filipe Barthen no baixo.
23h30: É Isso Que Vai Acontecer – Show de Bernardo Pellegrini e o Bando do Cão Sem Dono, mostrando o repertório do novo disco do grupo, conhecido pela versatilidade musical.
1h: Tributo a Gigante Brasil – Nova versão de grupo Band’ou homenageia o baterista Gigante Brasil, falecido neste ano em São Paulo. Parceiro de Itamar Assumpção, baterista de Marisa Monte, Gigante participou da primeira edição do “Cabarezinho”, em 1999. Com Eduardo Batistela, Rubens e Beto Nardo.
Serviço:
Cabarezinho 2009
De 10 a 13 de dezembro (quinta a domingo)
Local: Vila Cultural Cemitério de Automóveis (Rua João Pessoa, 103)
Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia) para os shows a partir das 22 horas. Atividades gratuitas durante o dia (exceto almoços)
Patrocínio: Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic)
Apoio: Vila Usina Cultural, Cedro Hotel e Vila Cultural Cemitério de Automóveis
Informações: (43) 3344-5998
(Londrina, 9 de dezembro de 2009)