Alunos de escola municipal fazem pesquisa científica após morte de colmeia de abelhas
Ação faz parte do projeto de educação ambiental Abelhas Sem Ferrão, executado pela Secretaria Municipal de Educação em parceria com a Universidade Estadual de Londrina
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Os alunos da Escola Municipal Noêmia Alaver Garcia Malanga realizaram uma pesquisa científica para descobrir a causa da morte da colmeia de abelhas da espécie mandaçaia que existia na escola, por meio do projeto de educação ambiental “Abelhas sem Ferrão”. Para isso, os alunos do 3º ano da turma A foram até a Universidade Estadual Londrina (UEL) para conhecer o setor de biologia onde se realizam estudos sobre abelhas. Eles foram acompanhados pelo coordenador pedagógico da escola, Valdir Roque de Lima, e pela professora Elisângela Aparecida Gil.
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Na UEL, os alunos foram recebidos pela titular do Laboratório de Ecologia e Genética Animal (LAGEA) e Estudos sobre Abelhas, professora Silvia Helena Sofia, e seus assistentes, Susanna Mendes Miranda e João Caetano Marcuz. Segundo a professora da Escola Noêmia Malanga, Elisângela Aparecida Gil, primeiro os alunos participaram de uma aula expositiva sobre abelhas sem ferrão, ocasião em que aprenderam que as abelhas são responsáveis por 90% da polinização vegetal do nosso planeta.
De acordo com a professora, os alunos pesquisaram diversas possíveis causas da morte das colmeias, como: se morreram por falta de comida; por causa da chuva e frio; se outras abelhas podem ter atacado as mandaçaias; se não se acostumaram com o ambiente; se podem ter morrido por ação do fumacê para matar mosquitos; ou se alguém passou veneno em alguma flor que contaminou as abelhas. “Esta última hipótese, de envenenamento foi a mais provável. A equipe da UEL explanou que as abelhas mandaçaias são extremamente sensíveis ao ambiente urbano, e que elas se distanciam até 2 km de sua colmeia em busca de alimento. Considerando que as pessoas passam inseticida em seus jardins e lavouras, é possível que uma ou mais abelhas tenham se envenenado e contaminado toda a colmeia”, disse.
Com isso, os alunos saíram convencidos da hipótese de envenenamento da colmeia mandaçaia e refletiram com a professora Elisângela Aparecida Gil sobre a possibilidade de aumentarem a plantação de flores no “Espaço Vida” para que as abelhas tenham mais opões na busca por alimento e não se distanciem tanto, correndo o risco de ser envenenadas. “A morte das abelhas foi um momento muito triste na nossa escola, os alunos sentiram muito essa perda, mas o momento da pesquisa científica foi muito bacana porque trouxe respostas para eles”, disse a docente.
Segundo ela, a escola conta com outras três colmeias, uma de abelhas jataí e duas de Mirim Droryana. “As abelhas jataí e Mirim Droryana se distanciam até 500 metros de sua colmeia em busca de alimento, por isso é possível que elas não tenham entrado em contato com o veneno e não se contaminaram”, comentou.
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Com a conclusão da pesquisa, a escola desenvolveu um material digital que será veiculado nas redes sociais, alertando as pessoas para que evitem a pulverização de veneno nas hortas, pomares, jardins e plantações agrícolas, a fim de preservar as abelhas e contribuir para a biodiversidade do planeta. Além disso, os alunos levarão um material impresso, que contém formas de prevenção, para suas casas, e a temática também será trabalhada em sala de aula. A pesquisa ficou pronta em momento oportuno, pois amanhã (3) comemora-se o Dia Nacional das Abelhas, que ressalta a importância destes animais, fundamentais para a sobrevivência humana.
O projeto Abelhas sem Ferrão foi implantado na escola Noêmia Alaver Garcia Malanga em abril deste ano. O trabalho faz parte do “Espaço Vida”, ambiente pedagógico que aborda questões ligadas à natureza e ao meio ambiente.
De acordo com a diretora da escola, Arlette Adriana Carrero, por meio deste trabalho pedagógico os alunos podem compreender como se dá a produção do mel, a vida comunitária das abelhas, a divisão do trabalho, e a sua importância para o meio ambiente. “Com isso, criamos uma oportunidade de sensibilizar os alunos sobre a importância do meio ambiente e incentivar a comunidade escolar a construir espaços de aprendizagem com o plantio de espécies vegetais e manejo de abelhas sem ferrão”, disse.
Atuam diretamente no espaço 215 alunos da Educação Infantil e Ensino Fundamental. Todavia, o projeto atende todos os 670 alunos da unidade, os quais participam com sugestões e produções de trabalhos que são aproveitados para enriquecer o espaço.
Mais sobre a iniciativa – O projeto de educação ambiental Abelhas sem Ferrão é executado nas unidades escolares da rede pela Secretaria Municipal de Educaçao em parceria com a UEL. Além da Noêmia Malanga, atualmente, as escolas municipais Maestro Andrea Nuzzi e Maestro Roberto Pereira Panico também participam da proposta. O engenheiro agrônomo da SME, Paulo Roberto Guilherme, e a professora do Apoio Pedagógico de Ciências da secretaria, Cristina da Silva Borba, são responsáveis pela elaboração e implementação do projeto na Rede Municipal.
A professora Silvia Helena Sofia, do departamento de Biologia da UEL, ressaltou que atualmente o mundo todo sofre, comprovadamente, com declínios nas populações de abelhas devido ao desmatamento, uso indiscriminado de agrotóxicos na agricultura, poluição, aquecimento global, avanço da urbanização sobre florestas nativas, entre outras causas decorrentes de ação humana na natureza. “Assim, projetos como o do ‘Abelhas Sem Ferrão nas Escolas’, que por meio da educação ambiental visam conscientizar as crianças sobre a importância destes insetos, são de extrema importância. Através deste projeto, as crianças tornam-se agentes multiplicadores na sociedade, disseminando informações sobre os riscos ambientais a que as abelhas estão expostas, atuando como novos ‘guardiões’ destes importantes polinizadores na comunidade. Portanto, considero o projeto uma excelente iniciativa da Secretaria Municipal de Educação”, afirmou.
A criação racional de abelhas sem ferrão é chamada de meliponicultura. De acordo com a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), além de permitir a produção de diversos tipos de mel, a atividade contribui para a conservação das diferentes espécies de abelhas e para ampliar os serviços de polinização de plantas, inclusive de muitas culturas agrícolas. Devido a estas espécies terem seu ferrão atrofiado, estas abelhas costumam ser dóceis e não representam risco aos humanos.
Ainda segundo a Associação, há mais de 500 espécies de abelhas sem ferrão no planeta, das quais cerca de 250 são encontradas no Brasil. As mais conhecidas são: jataí (Tetragonisca angustula), mandaguari (Scaptotrigona depilis), guaraipo (Melipona bicolor), jandaíra (Melipona subnitida), mandaçaia (Melipona quadrifasciata), tiúba (Melipona fasciculata) e uruçu (Melipona scutellaris).