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“Descobrindo o Parque” viabiliza preservação e educação ambiental em Londrina

Projeto atua há quase 30 anos com visitas guiadas que ensinam sobre a fauna e flora nativas do Parque Arthur Thomas

De portas abertas desde 17 de setembro de 1975, o Parque Municipal Arthur Thomas é sempre lembrado como um dos principais espaços de lazer e turismo na cidade de Londrina. Mas ainda que seu peso cultural seja indiscutível, o local tem um papel ainda maior como uma Unidade de Conservação.

Com área total de 85,47 hectares, o parque foi fundado a partir de terras doadas pela Companhia de Terras Norte do Paraná, sendo destinado a preservar as espécies da fauna e flora nativas da região. Dado este objetivo, nada pode ser deixado ou retirado por visitantes, buscando manter a natureza local o mais imaculada possível.

Foto: Emerson Dias/ NCom

No entanto, mesmo de importância ímpar, é preciso realizar ações para que a biodiversidade da região seja tão conhecida e respeitada quanto deveria. Por conta disso, o projeto Descobrindo o Parque, da Secretaria Municipal do Ambiente (Sema), atua desde 1995 com passeios guiados e atividades lúdicas e sensoriais. Essas atividades, coordenadas pela Assessoria de Educação Ambiental da Sema, ajudam a reconectar as pessoas com a natureza e apresentam os aspectos históricos e ecológicos do Parque Arthur Thomas e de Londrina.

Embora seja aberto ao público em geral, o projeto possui um foco especial nas crianças e adolescentes, recebendo alunos de inúmeras escolas de Londrina e região. Com isso, a intenção é estimular e expandir os conhecimentos ambientais abordados nas instituições de ensino por meio de ações práticas.

Um dos educadores ambientais, o pedagogo Valdir de Oliveira, junto aos jovens visitantes. Foto: Emerson Dias/ NCom

“Ainda que o assunto seja trabalhado em sala de aula, isso é feito apenas através de imagens e falas naquele contexto. Então, poder sentir no corpo como é estar aqui, com o ar mais puro e a temperatura mais fresca, e ter a oportunidade de ver os animais de verdade, faz diferença para as crianças”, apontou o pedagogo Valdir de Oliveira, um dos educadores ambientais do projeto e integrante da Assessoria de Educação Ambiental.

Além de acompanhar os visitantes pelas trilhas demarcadas, os monitores do Descobrindo o Parque realizam momentos de reflexão e interação, de acordo com o público do passeio. Nomeadas como “Experiências”, essas ações são focadas no âmbito corporal e afetivo, fazendo uso dos vários sentidos do corpo humano para aprimorar a experiência de visitar o parque. Para um grupo de visitantes mais novos, por exemplo, os animais da fauna podem ser apresentados em pelúcia, durante um momento em que também podem ser realizadas algumas brincadeiras.

Foto: Emerson Dias/ NCom

No decorrer da trilha, são apresentados exemplos da flora nativa, incluindo espécies que antecedem a existência da cidade, como a peroba-rosa, o pau-brasil e o pau-ferro, abordando inclusive seus aspectos culturais.

Sendo uma reserva de animais silvestres, há também a possibilidade de encontrar os reais moradores do parque, como macacos-pregos, quatis, capivaras, cutias, teiús e garças, entre outros. Em caso de encontro com esses animais, os monitores sempre orientam a não se aproximar demais, não tocar e nem alimentá-los. Até hoje nunca foi registrado nenhum acidente com a fauna local durante as ações.

Experiência personalizada – Os passeios são sempre monitorados por ao menos um educador ambiental, como são chamados os profissionais que atuam no setor. Atualmente, a equipe do Descobrindo o Parque é composta por sete pessoas. São dois professores, o pedagogo Valdir de Oliveira e Andréa Regiane Zanon de Faria, com formação em geografia, além de uma psicóloga, Renata Cristina Engler Graner, e o biólogo Jorge Akira Oyama. Há também uma assessora e duas estagiárias, responsáveis pela parte administrativa, mas capacitadas a atuar como guias caso necessário.

A psicóloga Renata Graner também atua como educadora ambiental. Foto: Emerson Dias/ NCom

De acordo com a demanda do grupo de visitantes, é definido qual membro do projeto é mais adequado para oferecer uma melhor experiência durante o passeio. Valdir atua principalmente com crianças menores, enquanto Andréa é geralmente designada para alunos mais velhos, do Ensino Fundamental 2 ou Ensino Médio. Em passeios com idosos ou pessoas com necessidades especiais, é priorizado que Renata participe, para que possa ser feito a partir de uma ótica específica e adaptada.

Ainda que os passeios sigam um roteiro básico, cada monitor imprime nele sua forma de atuar. “Quando a Renata acompanha, por exemplo, geralmente é realizada uma meditação e experimentos ecopsicológicos. Quando sou eu, o passeio pode incluir brincadeiras, leitura de textos, experiências artísticas e coisas do tipo. Se for a Andréa, há uma explicação mais aprofundada sobre aspectos históricos e geográficos. Já o Jorge tem um enfoque maior na fauna e flora local”, contou Oliveira.

Foto: Emerson Dias/ NCom

Às vezes, também são convidados biólogos para fazer parte da programação, levando animais exóticos, como cobras, para que os visitantes interajam.

Como aponta o pedagogo, que assim como a psicóloga da equipe, possui formação em ecopsicologia, a natureza possui grande influência na vida dos indivíduos, sendo restauradora e capaz de interferir positivamente no corpo, promovendo bem-estar.

Visitas estudantis – Em Unidades de Conservação, como é o caso do Parque Arthur Thomas, é definido que quanto menor for o grupo de visitantes, menos impacto se tem no ambiente. Assim, é sugerida a participação de no máximo 20 pessoas. Porém, por conta da capacidade dos ônibus que geralmente levam os grupos até o parque, o projeto Descobrindo o Parque se adequou para atuar com a capacidade máxima de duas turmas, contabilizando cerca de 40 pessoas.

Andresa Pires, coordenadora pedagógica da Escola Leonor Maestri de Held. Foto: Emerson Dias/ NCom

Um dos grupos a prestigiar as atividades do projeto foi a turma do 1º ano da Escola Municipal Leonor Maestri de Held, que aborda os marcos de Londrina como conteúdo em sala. “São poucos os alunos que têm a possibilidade que a família os leve até o parque. Então a escola está aí para ampliar esse conhecimento deles”, pontuou a coordenadora pedagógica da escola, Andresa Carvalho Carrion Pires.

O espaço é também objeto de diversas pesquisas científicas, recebendo estudantes de biologia, geografia e outros cursos relacionados ao meio ambiente.

Lixo no lixo, água na água – A interferência humana no espaço natural também é um tópico abordado durante o passeio. A partir do Córrego do Piza, corpo de água presente no parque, é possível perceber o impacto causado pelo lixo que chega pela água, mesmo o local sendo próximo de uma nascente. Atualmente, o córrego está assoreado, isto é, com acúmulo de sedimentos em seu leito, formando pequenas ilhas pelo trajeto. Com isso, a importância da mata ciliar, que oferece uma proteção natural nos arredores de um corpo de água, é também destacada.

Foto: Emerson Dias/ NCom

O pedagogo Valdir de Oliveira ainda aponta como as construções podem ser um dos principais fatores a gerar o acúmulo de sedimentos nos rios, quando a terra retirada dos terrenos não é destinada ao local devido. “A água da chuva acaba levando tudo para o bueiro e vem parar na parte mais baixa da bacia”, disse.

Por conta disso, os agentes da Sema, quando realizam atividades em outros espaços, também sempre salientam a questão dos impactos causados pelo descarte irregular, sobretudo nos rios da cidade.

Área de preservação – A bacia hidrográfica do Ribeirão Cambé compõe uma rede de drenagem na cidade, caracterizada pela captação de água da chuva que escoa até seu curso. No parque, a bacia dá origem a uma queda d’água de aproximadamente 20 metros, chamada Salto Beija Flor. Pelo curso, há ainda uma queda de 50 metros, onde foi construída a Usina Hidrelétrica Cambé, a primeira de Londrina, inaugurada em 8 de fevereiro de 1939.

Foto: Emerson Dias/ NCom

Depois da desativação da usina em 1975, o parque foi criado como uma Área de Preservação Permanente, aberta para visitação desde 1987. Com isso, o Parque Arthur Thomas é hoje um dos últimos espaços remanescentes de Mata Atlântica no estado do Paraná.

Espécies Estrangeiras – Atualmente, o parque possui árvores que foram transferidas para o local, vindas de espaços de onde precisariam ser retiradas. Como foram realocadas desde antes do lugar se tornar uma Unidade de Conservação, são mantidas, mas como não é um dos objetivos do parque ter espécies exóticas, ou seja, não nativas deste espaço, não devem ser repostas após morrer.

Invasores? – Após alguns relatos de animais deixando os limites do parque, foi realizado um trabalho de conscientização na comunidade local para que as pessoas não ofereçam alimentos aos bichinhos. Sendo animais silvestres em uma área de preservação, é entendido que esses são capazes de obter sua alimentação da própria natureza. Assim, qualquer interferência humana pode causar um desequilíbrio ambiental, além de incentivar e acostumar os animais a buscarem recursos em espaços diferentes, o que pode causar transtornos diversos tanto para eles quanto para as pessoas da região.

Foto: Emerson Dias / N.Com

Há estudos sendo realizados para identificar se a nutrição oferecida pelo próprio espaço é ou não suficiente para sua fauna. Caso seja concluído que não está sendo o suficiente, haverá uma suplementação correta na dieta disponível. Assim, continua não sendo necessária a interferência externa, que, mesmo bem-intencionada, ainda pode prejudicar a saúde dos bichinhos.

Outra medida ideal para evitar problemas com os animais que saem da área delimitada seria implementar na região lixeiras adaptadas, que não fossem tão facilmente acessíveis à fauna local.

Caminhos do Parque – Desde 2016, as únicas trilhas disponíveis no parque são a Trilha do Tatu e a Trilha da Capivara. As demais estão desativadas devido a uma chuva particularmente forte que afetou várias regiões de Londrina, necessitando de manutenção.

Foto: Emerson Dias/ NCom

Há planos de reforma para o parque todo, inicialmente projetada para comemorar os 90 anos de Londrina, sendo também uma forma de tornar o espaço e as atividades que oferece mais adaptados e com acessibilidade para públicos diversos.

Mascotes do Arthur Thomas – No interior do espaço, alguns dos animais símbolos da fauna londrinense são representados através de grandes estátuas. Para a nomeação desses mascotes, foi realizada uma votação com visitantes e escolas da cidade, resultando no batismo de espécies como Capitu, a capivara, e Graça, a garça.

Como Descobrir o Parque – O projeto é aberto à participação de qualquer instituição ou grupo interessado, a partir de 10 pessoas, sendo apenas necessário realizar a solicitação através deste formulário, disponível no site da Prefeitura de Londrina.

Foto: Emerson Dias/ NCom

O parque funciona de terça-feira a domingo, das 8h às 17h, mesmo em feriados, se mantendo fechado apenas nas segundas-feiras para manutenção. Já as atividades do Descobrindo o Parque ocorrem mediante agendamento.

Por questões de segurança, o parque fecha sempre às 17h, já que a região tem indícios de mosquito-palha, responsável por transmitir leishmaniose, que fica ativo durante o período noturno.

O Parque Municipal Arthur Thomas tem sua entrada localizada na Rua da Natureza, 155, no Jardim Piza, ao lado da Avenida Dez de Dezembro.

Texto: Gabriel Navas, sob supervisão dos jornalistas do Núcleo de Comunicação da Prefeitura de Londrina.

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