Centro de Oficinas para Mulheres muda vidas através da educação financeira e apoio emocional
Em funcionamento desde 1998, o espaço integrante da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres coleciona histórias de transformação de alunas e voluntárias

Referência nacional, espaço de apoio, trabalho tocante, divisor de águas. Esses são alguns termos usados por voluntárias, alunas e professoras para descrever o Centro de Oficinas para Mulheres, o COM. O espaço faz parte do organograma da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres (SMPM), e tem como objetivo desenvolver ações de caráter informativo e formativo, mirando na capacitação de mulheres para a autonomia e para o mundo do trabalho.
Dentro da SMPM, ainda há o Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CAM), que oferece atendimento social, psicológico e orientações jurídicas para mulheres vítimas de violência, além da Casa Abrigo Canto de Dália (CACD), centro de acolhimento para mulheres em iminente risco ou grave ameaça. Assim, a estrutura funciona de maneira tridimensional no combate à violência de gênero, contando tanto com atendimento preventivo quanto paliativo.

No COM, cada aula é uma oportunidade de mudança de vida. Oferecendo desde cursos de capacitação profissional até atividades de bem-estar, o centro se tornou um ponto de apoio fundamental para mulheres que buscam crescer pessoal e profissionalmente. Qualquer mulher residente em Londrina e região, com idade igual ou superior a 18 anos, pode participar de oficinas, palestras, eventos, projetos e acompanhamentos individualizados fornecidos pelo COM.
As ações no centro são desenvolvidas por meio de parcerias com outros órgãos públicos, instituições de ensino superior, organizações não governamentais e voluntárias da sociedade civil em geral. Dessa forma, é possível cultivar a mudança na comunidade feminina londrinense.

Início – Com quase nove anos de trabalho no Centro de Oficinas para Mulheres, Lisnéia Rampazzo é diretora de Empreendedorismo e Ações Educativas e psicóloga no COM. Ela conta que, muito antes de se tornar o centro, o espaço era uma coordenadoria da mulher, atuando em 1998 na Fazenda Refúgio, zona sul de Londrina. No início, a proposta se resumia ao atendimento à mulher em situação de violência, mas após alguns meses, atividades como cursos de tecelagem começaram a ser ministradas no local.
“Ao longo do tempo, o Centro foi sendo absorvido por outros lugares. Da Fazenda Refúgio, ele foi para a chácara Mário Bonalumi, onde aconteciam atividades relativas a plantas medicinais. Um agrônomo dava aulas educativas sobre o cultivo e o uso das plantas. Por longos anos foi assim”, explicou Rampazzo. Há quatro anos, o COM se estabeleceu na rua Valparaíso, no Parque Guanabara, próximo à Avenida Higienópolis.

Educação Financeira – “O COM é um dos primeiros organismos de políticas para mulheres no Brasil” afirmou Liange Doy Fernandes, advogada e secretária municipal de Políticas para as Mulheres. “Foi construída uma história sempre pensando na questão da autonomia financeira da mulher, já que, como surgimos como órgão de enfrentamento à violência contra a mulher, a questão financeira anda lado a lado com esse combate.”
Empreendedorismo e Formação para o Trabalho são essenciais na construção de autonomia e liberdade na vida de uma mulher, tanto que estas áreas representam um dos três eixos dentro do Centro de Oficinas. Ao apoiar e orientar as participantes a instituir seus próprios negócios, é possível ir além do objetivo econômico, atingindo também o educativo.
Rampazzo destacou que uma das ferramentas mais importantes para a educação financeira dentro do COM é a Sala da Mulher Empreendedora. Inaugurado em 2023, o espaço oferece suporte às mulheres que buscam se capacitar e se inserir no mercado. “A Sala vai dar todo esse apoio tanto para a mulher que está buscando a formalização do MEI (Microempreendedor Individual), como para a que já o tem e deseja continuar se capacitando, tendo consultorias individualizadas para que seu negócio prospere”, evidenciou a psicóloga.

Esse trabalho não se restringe somente às mulheres que querem se formalizar, mas também apoia aquela que deseja trabalhar na informalidade, tendo da mesma forma a mesma capacitação. Segundo Rampazzo, no COM, “há uma agenda muito específica com rodadas de negócios, consultorias especializadas em várias áreas – finanças, marketing, modelagem de negócios, etc. Todos os meses trazemos uma programação diferenciada para atender essa empreendedora”, disse ela.
Atuação integrada – Para as servidoras do COM, o grande diferencial dos serviços é a maneira completa como as atividades oferecidas se articulam. “É um organismo que cuida só das mulheres, então tem esse olhar diferenciado. Em uma cidade do tamanho de Londrina, é preciso contar com algo próprio”, destacou a secretária Liange Doy Fernandes.
Além da geração de renda e da preparação para o mercado de trabalho, o programa conta com um terceiro eixo voltado ao bem-estar, saúde e ações educativas. Para Rampazzo, o “pulo do gato” é o fato de que as mulheres que procuram a Sala da Mulher Empreendedora para participar de suas capacitações acabam sendo absorvidas pelas oficinas que abordam diversos temas.

“É como se a gente pudesse oferecer algo completo. Um dos muitos ganhos nisso é justamente a socialização”, comentou a diretora. “Eu sempre falo ‘venham fazer [a oficina], pode não ter nada a ver com você ou com a sua vida no momento, mas venham mesmo assim’. É um insight, um despertar de alguma técnica ao conversar e conhecer pessoas diferentes.”
Rampazzo afirmou que o lema do COM é justamente ‘oportunidade para todas’. Na sala de oficinas, podem sentar-se lado a lado alguém abastada e alguém analfabeta, tanto mulheres que lutam diariamente dividindo o mesmo espaço como mulheres com condições mais estáveis. “Essas mulheres têm necessidades diferentes, mas com objetivos muitos semelhantes, que incluem buscar a sua autonomia, seja pessoal ou profissional. Essa é a beleza do serviço, encaminhar essa mulher, seja para o empreendedorismo, seja para o mercado de trabalho. O importante é ter esse poder de escolha”, frisou Rampazzo.

Vidas tocadas – Atendendo desde mulheres sem perspectiva de futuro até aquelas que estavam completamente perdidas em suas próprias rotinas, o Centro de Oficinas é guardião de inúmeras histórias de vida e, principalmente, histórias de transformação.
Entre os perfumes dos temperos naturais e a técnica da cozinha executiva, a aluna Ivonete de Paula Mostaço transitou em várias oficinas disponíveis no COM. Tanto interesse foi despertado, de forma gradual, por um episódio triste. “Eu faço tratamento para um câncer de mama, que incluiu uma cirurgia de quadrante em que retirei todos os linfonodos (axilas)”, relatou Mostaço. “Eu sempre trabalhei com cozinha, mas com grandes eventos. Com a minha condição, fiquei incapacitada para trabalhar”, contou.
Foi através da indicação de uma amiga que ela ficou sabendo sobre a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres e todas as atividades oferecidas. Desde que começou a frequentar os cursos, há um ano, a aluna já experimentou oficinas de temperos, doces, pizzas, cozinha executiva e outras. “Aos poucos, vai me surgindo a vontade de voltar a fazer as coisas, pois eu posso ver a união das mulheres, as trocas de experiências, a união e o carinho que o pessoal da Secretaria demonstra ao atender a gente. Eu vou me despertando, saindo de um lugar de depressão devido ao tratamento que estou passando. Para mim, tem sido um divisor de águas”, concluiu.

Não são apenas as alunas que saem tocadas do COM, mas também as voluntárias que lá trabalham. A professora Luciana Furlaneto Maia, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), narrou as experiências que ela e sua equipe vivem trabalhando em uma oficina de Produção de Temperos e Molhos de Pimenta.
As aulas, que surgiram de um projeto de extensão desenvolvido na universidade, têm como objetivo preparar formulações que instiguem os sentidos através da cor, sabor e perfume das especiarias, tudo isso de uma forma rentável, que traga lucro às empreendedoras.
As histórias, relatou Furlaneto, são todas emocionantes. A professora informou que, ao final do curso, todas as alunas devem responder um relatório padrão, com questões em aberto para que possam ter liberdade de escrever o que quiserem sobre as atividades. “Essa parte que é emocionante, pois vemos que, mesmo que algumas tenham dificuldades na escrita, as alunas manifestam a importância do curso para a melhoria de sua renda”, observou.

Para a voluntária, o que o COM proporciona para as participantes vai muito além do que só ensinar algumas receitas ou técnicas de artesanato. “Elas ficam felizes ao serem percebidas como parte de uma comunidade. É claro que eu tenho a minha gratificação enquanto docente, mas esse lado humano nos comove. É impressionante o que esse trabalho toca.”
E, para tocar tantas vidas, há muito trabalho. “Toda a equipe se enche de orgulho, porque não é fácil. Não é nada fácil”, enfatizou Rampazzo. Toda a articulação de um projeto de mais de 10 anos depende de um delicado sistema, compaixão e, antes de tudo, empatia. “É bonito falar sobre isso, mas para a mulher que tem filhos, deixa sua casa para vir e se capacitar, não é um processo fácil. Assim, quando elas conseguem se encontrar, encontrar seu objetivo de vida e seu propósito, nós sentimos um imenso orgulho”, finalizou.
Texto: Maria Dalben, sob supervisão dos jornalistas do Núcleo de Comunicação da Prefeitura de Londrina.