Abolição é tema de exposição em colégio estadual
Trabalho do fotógrafo Marcos Costa vai percorrer sete unidades escolares de Londrina
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Estudantes do Colégio Estadual Professora Lúcia Barros Lisboa receberam, nesta quarta-feira (20), a exposição fotográfica “130 anos de abolição da escravatura: o grito negro londrinense”, do fotógrafo Marcos Costa. O trabalho, composto por mais de 100 fotos, mostra três momentos: negros de Londrina, pessoas negras retratadas por outros fotógrafos e estudantes negros.
Costa contou que o trabalho levou dois meses para ficar pronto, incluindo a fase de pesquisa, fotografia, produção, seleção e tratamento da imagem. Ele explicou que a exposição mostra personagens negros já retratados, mas que seus nomes não foram conhecidos, somente o de seus fotógrafos, que foram citados na exposição. Há também pessoas negras de Londrina que são reconhecidas na sociedade, além de imagens de estudantes que representam o sonho. “Os personagens do município foram fotografados gritando, representando o nome da exposição. Uma forma de dizer que chega de preconceito e que cada um deve ser respeitado pelo que é, mesmo em suas diferenças. Então temos os negros esquecidos, os que conseguiram serem vistos e os que ainda querem um lugar”, ressaltou.
Além da exposição, o artista conversa com os estudantes sobre o objetivo do trabalho. “É importante dar esta visibilidade dentro do contexto escolar, pois estamos trabalhando com a identidade negra, a cor da pele. E a exposição traz elementos para os professores trabalharem o tema com os estudantes. É uma geração imagética, que lida com o como é visto pelo outro e, portanto, ver essa valorização do negro é importante. Expomos imagens de negros de diferentes profissões, assim como de estudantes universitários, o que serve como incentivo aos estudantes que observam”, destacou.
A pedagoga do Colégio Lúcia Barros, Lilian Maria dos Santos Rodrigues Dias, disse que o tema da exposição serve como fortalecimento dos alunos negros que frequentam a escola. “É importante eles se identificarem e verem que, mesmo com luta, é possível vencer e que o estudo é muito importante. Para eles, é também relevante, por se tratar de um artista negro que traz essa reflexão para o contexto escolar”, comentou.
O diretor da escola, Claudio Almeida, enfatizou a importância não só do tema abordado, como também pela oportunidade dos estudantes verem uma exposição e ainda poderem conversar com o artista. “Trazer atividades culturais para a escola é fundamental. Neste caso específico, trata-se de um trabalho que busca sensibilizar para a importância sobre o respeito e sobre não termos preconceito. A escola está aberta a outras iniciativas como esta”, ressaltou.
A estudante do primeiro ano do ensino médio, Alana Aparecida Camargo de Souza, 18 anos, disse que gostou muito da exposição por mostrar negros, tanto sem nomes, quanto com nomes. “Os que não têm nomes, me lembraram os negros esquecidos pela história e isso é triste”, lamentou.
Mayara Vittória Godinho Coelho, 17 anos, aluna do segundo ano do ensino médio, também elogiou o trabalho. “Os negros não aguentam mais racismo, não querem ser diferentes. A exposição serve para ajudar as pessoas a saberem que todos somos iguais e que não se deve ser racista. Toda escola tem alguém que já sofreu bullying e as fotos me lembraram isso, do sofrimento de muitas pessoas”, frisou.
Já Anna Luiza Matta, 15 anos, também aluna do primeiro ano, disse que ver a história dos negros ser apresentada, faz com que a luta deles não seja em vão. “Mesmo muitos sendo esquecidos, a exposição traz de volta a essência da luta do passado e faz com que não aconteça esse esquecimento. É um trabalho de consciência para a atualidade”, destacou.
O Colégio Estadual Professora Lúcia Barros é o primeiro das setes escolas a ser contemplada com a exposição que fica um dia no local. No dia 27, será a vez do Colégio Estadual Antonio Moraes de Barros, localizado na Rua Serra do Roncador, 574, no Jardim Bandeirantes. Outras escolas vão receber a exposição em data a ser definida.
O artista – Marcos Costa é formado em Artes Cênicas, pela Universidade Estadual de Londrina, e Artes Visuais, pela Universidade Norte do Paraná (Unopar) e atua como professor no Estado do Paraná. Em 2012, Costa foi ganhador de um prêmio do Ministério da Cultura, pelo trabalho “Negras Faces em Foto”, que assim como a exposição atual, contou com patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura, por meio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura.